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Douglas Tolentino

Douglas Tolentino, 44 anos
Apaixonado pela sua família, por música, cinema e leitura.
Músico e compositor.

Alô, comunidade!

Alô, comunidade!

“Comunidade”, por definição do dicionário, é aquilo que é de comum interesse a todos, ou aqueles que compartilham uma área habitacional ou região, que pertencem e se orientam por regras preestabelecidas de um governo, e que dividem uma cultura social e sua história.

Nós, seres humanos, desde os primeiros sinais evolutivos – isso para aqueles que acreditam na teoria de Darwin -, buscamos nos relacionar em grupos. Desde os primórdios da nossa história, descobrimos que em grupo o índice de sobrevivência era maior, e alcançava-se o objetivo de uma caça, ou seja, a comida, com muito mais eficiência. Assim, relacionarmos-nos em comunidade é mais que sobreviver nos dias de hoje, é enaltecer o sentimento de empatia, é compartilhar. Segundo o sociólogo polonês Zygmund Bauman, “pertencer a uma comunidade significa renegar parte de nossa individualidade em nome de uma estrutura montada para satisfazer nossas necessidades de intimidade e da construção de uma ‘identidade’”.

Como experiência individual, nossa primeira comunidade é a família. É nesse pequeno grupo que aprendemos os valores de compaixão, ética, respeito e convivência social. É na comunidade fora do grupo familiar que vivenciamos na prática todos esses sentimentos e comportamentos que posteriormente nos direcionam para um bem comum em sociedade. Essa convivência só dá certo porque o respeito mútuo é compartilhado e a diferença é aceita, apesar de, vez ou outra, pequenos grupos insistirem em uma divisão baseada em religião, etnia, gênero e, absurdamente, pela cor da pele.

Mas apesar das diferenças, as comunidades sobrevivem. E a comunidade da região do Barreiro existe desde 1855, quando era ainda conhecida como “Fazenda Barreiro”, da família do coronel Damazo da Costa Pachec, que posteriormente venderia o terreno, o qual, em 1880, seria dividido em várias outras fazendas menores, marcando o início da nossa região.

E o que é mais apreciado, ao desfrutar um convívio social, do que as festas em comunidade? Na região do Barreiro, não seria diferente. Aqui o carnaval e as festas juninas são as festividades mais esperadas no ano. Hoje dividida em cerca de sessenta e quatro bairros, a região do Barreiro é uma das maiores fontes econômicas de Belo Horizonte, então, para descrever em detalhes nossa região e suas festas de cunho sociocultural, seria necessária uma pesquisa enorme! Por esse motivo, vou compartilhar somente a minha experiência pessoal em algumas boas delas.

Quem ainda se lembra das ótimas festas juninas ali no Teixeira Dias, em frente à mercearia Sorvetão, na antiga rua B5 (hoje, Wilson Tavares Ribeiro), onde as pessoas montavam suas barraquinhas em frente à própria casa? E tinha de quase tudo ali: quentão, cachorro-quente, canjica, pamonha, pescaria para as crianças (apesar de muitos adultos se divertirem também), amendoim torrado, pipoca, caipi-fruta e caipi-vodca (essa sim, a barraca mais disputada!). Eram bandeirinhas de um lado para outro, balões e correio-elegante, pra gente tentar “ficar com alguém” antes do fim da festa ou ser agraciado com uma brincadeira de um amigo mais engraçadinho… E ainda tinha a fogueira, que a cada ano parecia mais alta… Cuidado com as crianças!

A organização sempre se preocupava com um grupo de danças, afinal, o que é uma festa sem um baile? E pela rua as pessoas entravam no clima, vestiam-se a caráter: blusa xadrez, bota Zebu. Quem lembra dessa? Ainda pintavam bocas e olhos, desenhavam bigodes, costeletas e sobrancelhas, e, claro, o toque final: chapéu de palha!

Olhando pra trás, neste momento de pandemia, como faz falta uma festa dessas, né? Reunir todo mundo no sábado à noite, sem se preocupar com distanciamento ou uso de máscaras. A liberdade da interação social está na nossa cultura, no nosso DNA, assim eu acredito.

Lembro-me de uma conversa com um trabalhador, um nordestino de Pernambuco que estava em treinamento aqui em Minas Gerais:

– O que está achando de Minas? Tá gostando? Foi bem recebido? – Pergunto pra puxar conversa.

– Vocês aqui são muitos acolhedores e dão muita liberdade pra gente. A gente fica mesmo à vontade. – Ele disse com muita satisfação na fala.

E por  incrível que pareça, é assim mesmo, pelo menos no meu caso. Visita na minha casa tem a liberdade de abrir a geladeira. Acredito que isso é parte de ser mineiro.

Ainda havia umas festinhas menores, ali mesmo no Teixeira Dias, não tinha um local fixo, era a Festa da Primavera. Acontecia sempre no mês de setembro, óbvio! Novamente rua enfeitada, agora com várias flores, arranjos bem elaborados, som mecânico, barraquinhas com comidas e bebidas. As pessoas vinham dos bairros vizinhos atraídas pelo som: Santa Helena, Santa Cruz, Olaria e Barreiro de Baixo. Todos se juntavam próximo às caixas de som e de repente surgia uma coreografia em grupo, o famoso passinho. Quem não tentou acompanhar?  Celebrar a Primavera é algo feito desde da época dos celtas, é celebrar a vida nova que desperta no planeta, com o calor que virá do sol da primavera e do verão. É esquecer o frio do inverno que nos manteve distantes uns dos outros, e da maioria das atividade ao ar livre.

E, claro, falar de festa é falar da Associação de Moradores do Teixeira Dias, local de festas memoráveis, organizadas pela própria associação do bairro ou por grupos ligados à igreja São Pedro, localizada ali no bairro vizinho, Diamante. É de uma dessas festas que me lembro muito bem.

Organizada pelo grupo de jovens “Prosseguir”, da igreja São Pedro, do qual eu fazia parte naquela época, com a direção e organização de Sanderleia Rodrigues, a festa tinha o intuito de arrecadar uma verba para comprar instrumentos musicais para serem utilizados nas celebrações e missas da comunidade. Lembro-me bem de como a gente trabalhava nessas festas, o dia era realmente corrido. Em uma, em específico, tínhamos que buscar o equipamento de um dos DJs, não me lembro o nome agora. A aparelhagem estava localizada no quarto andar de um apartamento, ali em Contagem, no bairro Amazonas. Caixas de som enormes! (Deus, como eu e uns outros sofremos pra descer aqueles quatro andares, as pick-ups, e vinil, muito vinil! Acho que eram cerca de mil discos que o DJ queria levar para uma festa que  não duraria mais de cinco horas).

– Ô, mano, cuidado aí! Sabe quanto vale isso tudo? Se quebrar, perder, arranhar qualquer um desses discos, eu acabo contigo e ainda peço o dobro do meu cachê!

A gente corria contra o tempo, o pessoal se dividia entre logística, divulgação, equipe de bar, entrada na festa (portaria), e tudo com muita responsabilidade pra coisa dar certo. Até para segurança do evento o grupo contava com o apoio da Policia Militar em alguns momentos.

E fomos além, em algumas festas havia o som mecânico pra animar o pessoal e ainda uma banda ao vivo . Foram experiências maravilhosas, e como sempre com aquele aperto na barriga, porque a gente nunca sabia se daria certo ou não. Mas deu tão certo que outras mais foram realizadas. Quatro, para ser mais exato. E não posso deixar de citar as festas de São Pedro, em comemoração ao santo padroeiro. Muitas barraquinhas e os fogos de artifício pra dar aquele brilho no final…

Poderia estender esse breve relato com muitas outras celebrações que ocorreram, além das festas de final de ano, mas isso é para uma outra oportunidade. Caso você tenha gostado e tenha se lembrado de outras festas, deixe aqui seu comentário (mas não exponha ninguém a situações constrangedoras)! Será um prazer lê-lo. Abraços e até a próxima!

Douglas Tolentino

Revisão do texto: Mariana Mendes (Professora da Salinha Escreviver – @salinhaescreviver) e Rafael Faria.
Ilustração: Cristiane Fariah

 

Comentários (12)


  1. Ô, saudade de uma festa junina! Bom demais!
    Essas festas do Barreiro são ótimas!
    Belo texto! 🙂

  2. Valdiney Gonçalves Dias

    Adorei a matéria meu amigo, me fez viajar no tempo com as festas de ruas, eram realmente muito bom.

  3. Carlos Henrique do Nascimento

    Saudades dos bons momentos que vivi nestas festas 😃😃 top demais.

  4. Que saudades que deu!
    Não tinha tempo ruim pra gente, alegria, diversão, risadas e muito trabalho.

  5. Joyce Alvernaz

    Ótimo texto! Me deu uma vontade de estar nessa aglomeração hahaha

  6. Infelizmente não sou dessa época, mas resumiu tão bem, que até tenho a impressão de ter vivido. Parabéns pelo texto amigo e equipe.

  7. Infelizmente não sou dessa época, mas resumiu tão bem, que até tenho a impressão de ter vivido. Parabéns pelo texto amigo e equipe.

  8. Douglas Tolentino

    Obrigado a todos pelos comentários!

  9. Que legal isso, não foi da mesma forma mas me fez lembrar muita coisa,Legal de mais.

  10. Parabéns autor e redatores! Belo texto. Infelizmente, esta e as próximas geracoes pouco saberão o verdadeiro valor da palavra comunidade. Grandes momentos… Abracos!

  11. Giovani Lúcio

    Bons tempos, que poderão ser melhores num futuro próximo, só depende do nós.
    Douglas e Denis meus parabéns pela iniciativa!

  12. Esse texto me trouxe memórias muito boas. Saudades das festas!!!! Aguardando o próximo texto.

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