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Douglas Tolentino

Douglas Tolentino, 44 anos
Apaixonado pela sua família, por música, cinema e leitura.
Músico e compositor.

Todas as vidas importam

Todas as vidas importam

#Vidas negras importam!

#Todas as vidas importam!

#Todas as cores importam!

A um abismo social na população brasileira, uma ferida aberta há séculos, uma sombra da escravidão, e a eliminação da comunidade negra e pobre do nosso país é uma realidade. Conforme os números do Instituto de Pesquisa Económica Aplicada, o Ipea, entre 2007 e 2017, o Brasil se tornou o país com mais potencial de morte para negros do que para não-negros. O homicídio de negros cresceu 33,1% nesse período, enquanto a de brancos aumentou 3,3%. Ou seja, os negros são os que mais morrem e também são a população em que a taxa de mortes violentas mais cresce. Negar esses dados, negar esses números é negar a realidade, e a realidade é o que existe.

Devido a notícia do último final de semana, a morte de João Alberto Silveira Freitas, que faleceu no Carrefour devido os seguranças do hipermercado abusarem da força e violência para imobilizar Freitas. A tragédia não passou despercebida pelos meios de comunicação e pela sociedade. Mas falar de preconceito está longe da minha experiência de vida, sou branco de classe baixa e em nenhum momento fui parado ou interpelado a prestar qualquer tipo de explicação devido a minha cor. O racismo existe, já presenciei atos de preconceito no ambiente de trabalho, felizmente o funcionário foi demitido. Não cabe a nenhum de nós brancos, nos colocarmos no lugar dos negros, isso é impossível é inconcebível. O que nos resta é denunciar qualquer forma de preconceito e racismo e apoiar a comunidade negra em nossa sociedade, afinal somo todos iguais, independente de cor, raça, religião ou etnia, somos humanidade.

Quero compartilhar com vocês dois poemas, o primeiro de uma poetisa brasileira, negra e ativista, fundadora do primeiro partido político para mulheres do país, Gilka Machado. Carioca, nasceu em 1823 e desde de muito cedo suas poesias chamaram a atenção, ganhou um concurso literário no jornal A imporensa e depois não parou mais. Foi pioneira na poesia erótica, por se tratar de ser uma mulher e negra a abordar esse tema no início do século XX, um avanço para sua época. O poema a seguir é, Ser mulher, lançado em seu primeiro livro intitulado, Cristais Partidos.

Ser mulher

Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada

para os gozos da vida, a liberdade e o amor,

tentar da glória a etérea e altívola escalada,

na eterna aspiração de um sonho superior…

Ser mulher, desejar outra alma pura e alada

para poder, com ela, o infinito transpor,

sentir a vida triste, insípida, isolada,

buscar um companheiro e encontrar um Senhor…

Ser mulher, calcular todo o infinito curto

para a larga expansão do desejado surto,

no ascenso espiritual aos perfeitos ideais…

Ser mulher, e oh! atroz, tantálica tristeza!

ficar na vida qual uma águia inerte, presa

nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

Aos leitores que quiserem conhecer melhor suas poesias recomendo o livro, Gilka Machado Poesia Completa. Lançado em 2017 pelo selo Demônio Negro. A organização desse belíssimo livro foi composta pela paulistana Jamyle Rkain, Bacharel em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie é pesquisadora de gênero, mídia e cultura.

O segundo poema e de minha própria autoria escrito em Novembro 2018.

Acordei mais preto hoje.

Acordei mais preto hoje,

Com vontade de arco íris.

Vou de mini saia,

Turbante na cabeça.

Iaia vem depressa, não se perca!

Acordei com a cabeça no lugar,

Pés no chão, alma sem lar.

Vou me vestir de puta,

Me encher de Gilka.

Salve lá oxalá, dai-me força pra luta.

Acordei mais intolerante,

Pra burguesia que é média.

Pra esse povo demente, arrogante.

Acordei num impasse,

Num retrocesso de classe.

Branco, preto, vermelho e amarelo.

Se cor já não bastasse.

Acordo numa cela.

Punhos cerrados,

Uma vela,

Minha casa grande, senzala.

Obrigado a você que acompanha essa coluna e segue a gente aqui no Barreironline, caso tenha gostado do texto, deixe seu comentário e compartilhe com seus familiares e amigos.

Obrigado e até a próxima!

Douglas Tolentino

Fonte: Instituto de Pesquisa Económica Aplicada (https://www.ipea.gov.br/portal/)

Imagem por Cristiane Fariah.

 

Comentários (2)


  1. Qualquer forma de preconceito é abominável!!!
    O Brasil infelizmente tem um preconceito estrutural horrível e vergonhoso !!!!
    E com um enorme consentimento de uma parcela da população que normatiza este cenário!!!!!

  2. Muito bom! Parabéns Douglas pela coragem e sensibilidade em suas palavras.

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